O supermercado Dia, em recuperação judicial há mais de um ano, enfrentou uma situação delicada com um investimento de R$ 163,3 milhões em um CDB do Letsbank, parte do conglomerado do Banco Master. Recentemente, o Dia conseguiu reaver apenas R$ 20 milhões à vista, o que corresponde a cerca de 12% do valor investido. O acordo firmado com o Letsbank previa o pagamento de R$ 20 milhões à vista, mais R$ 50 milhões a serem pagos em dez parcelas mensais de R$ 5 milhões, corrigidas por 109% do CDI, ao longo de 2026. O restante seria quitado com um precatório de valor de face de R$ 116 milhões. No entanto, com a liquidação extrajudicial do Master, decretada em 18 de novembro, o pagamento dessas parcelas agora é incerto, passando a ser avaliado pelo liquidante nomeado pelo Banco Central.
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A recuperação judicial do Dia e a mudança de controle em maio de 2024, quando o grupo espanhol vendeu a operação brasileira por um valor simbólico a um fundo investido pelo empresário Nelson Tanure, adicionaram complexidade à situação. Para viabilizar a transação, a matriz aportou 40 milhões de euros, cerca de R$ 214 milhões na cotação da época, para dar fôlego à reestruturação da empresa. Os R$ 93,3 milhões restantes foram quitados mediante a cessão de um precatório federal com valor de face de R$ 116 milhões. Embora esse valor seja significativo, os precatórios não representam caixa disponível e têm liquidez limitada, o que pode dificultar o reforço rápido do capital de giro do Dia. Precatórios são dívidas judiciais reconhecidas pelo poder público que dependem de fila orçamentária, decisões judiciais e disponibilidade fiscal da União, sem previsão de recebimento imediato.
A situação atual traz implicações operacionais e de mercado significativas para o Dia. A incerteza no pagamento das parcelas do acordo com o Letsbank pode afetar o planejamento financeiro e a capacidade de investimento da empresa. Além disso, a dependência de precatórios, que não são títulos de pagamento imediato, pode limitar a capacidade do Dia de obter liquidez rapidamente, caso seja necessário. No mercado, essa situação pode impactar a percepção dos investidores e parceiros sobre a estabilidade financeira do Dia, influenciando futuras negociações e investimentos. O setor de supermercados é altamente competitivo, e a capacidade de uma empresa de gerenciar suas finanças de forma eficaz é crucial para sua sustentabilidade.
A administradora judicial do Dia afirmou que está à espera do relatório do liquidante nomeado pelo Banco Central para tomar eventuais providências. Enquanto isso, a empresa afirma estar cumprindo 100% das obrigações previstas no processo de Recuperação Judicial, sem alterações na condução das operações, abastecimento das lojas ou relações com parceiros, fornecedores e clientes. A recuperação judicial é um processo complexo que requer gestão cuidadosa para garantir a viabilidade futura da empresa. A trajetória do Dia será observada de perto por stakeholders e especialistas, dada a importância da empresa no setor de supermercados brasileiro.